Encontros Familiares (parte 1)
A minha família costuma fazer grandes patuscadas. Se não é em casa da tia Benilde é em casa do avô Bibiano ou do primo de 27º grau que, penso eu, se chama Ermenegildo. Quando chegamos à casa onde vai haver o banquete, todos os familiares se cumprimentam com abraços, apertões de mão, com beijos (umas dão dois e as mais “chiques” brindam o seu afecto apenas com um beijinho) e às vezes, nas saudações entre os familiares menos conhecidos, dá-se uma espécie de junção destas três formas de cumprimentar, sendo que, após uma série de hesitações, um estende a mão para o “passou bem?” e outro dá a sua cara ao manifesto para a junção de bochechas e assim acabam por fazer uma pluralidade de cortesias que eram dispensáveis. Depois disto, as mamãs falam do sucesso escolar e profissional dos seus filhos. Todas falam bem dos seus filhos nem que eles tenham 27 anos e andem a tirar a 4ª classe a noite porque lhes falta a cadeira de Estudo do Meio para serem carpinteiros ou que sejam despedidos todas as semanas por chegarem atrasados aos respectivos empregos por na noite anterior terem ido para a farra. “Amor de mãe” costuma-se dizer... Já os papás falam de futebol, política e de gajas. Nestas tremendas cavaqueiras, ouvem-se frases como por exemplo: “ O Benfica foi ‘bescar’ o melhor marcador do campeonato vietnamita só para calar aí certa gente.”, a já célebre “Até os comemos!” ou então a mítica “ O país ‘tá de ‘tanga’!”. Quando o mais pervertido diz: “Tanga? De tanga vi eu hoje, antes de vir p´rá aqui, a minha vizinha. Aquela toda boa que vocês viram quando festejamos o baptizado do Estanislau lá em minha casa, pá!”. Após esta frase devassa ouvimos sussurros e sorrisos por parte dos homens: “Ah! Ah! É boa é!” e “O que’u lhe fazia a essa...”. Depois há os filhos que, de uma maneira geral, falam de videojogos (rapazes) e de namorados (raparigas e, por vezes rapazes também): “Olha ‘tás a ver aquele nível em que é mesmo difícil derrotar o Cyborg? Queres saber como se faz? Carregas F8, seguido de M, 8, D, Z, 2, W, A e, no fim, F6. Se fizeres isso, com um espaço de 6,34 segundos por cada clique, vem uma nave aliada e desfaz em bocados o Cyborg, com o míssil de Super Raios e Ultra Mega Laser!” As raparigas (com um toque de poesia à mistura): ”Tipo, não sei se ainda te lembras daquele rapaz que conheci o ano passado, o Ananias, aquele que me comeu por trás enquanto tu dormias? Do género, ele anda a enviar-me daquelas SMS a dizer que me ama muito e que quer voltar para mim, depois de andar lá enrolado com a badalhoca da Gorete; aquela que quando vê um gajo asqueroso vai vomitar p’rá retrete.” Sobra a avó: “Estão todos ali na galhofa e esquecem-se de me dar o comprimido p’ró reumático e p’rás diabetes!” Seguidamente, as mulheres vão pondo a mesa, os jovens vão jogar PC, a avó espuma-se pela boca e os homens tentam fazer a parte mais difícil e problemática da comezaina: acender a brasa. Para acender uma brasa, no fundo, é preciso ter uma certa sapiência e destreza. Primeiro, não é qualquer um que se atreve a “mergulhar” as suas mãos no saco do carvão para o pôr no barbecue, pois ficariam da cor preta, o que é bastante desagradável. Depois, como toda a gente sabe, não é qualquer um que, com um vento a soprar de nordeste a uma velocidade não inferior a 50 km/h, acende uma brasa. Não somos nenhum Homo Erectus, que diabo! (Para quem não sabe, Homo Erectus foi a espécie que descobriu o fogo sem a ajuda de um isqueiro ou até mesmo de um fósforo! É também assim chamado porque esta espécie andava constantemente com o seu órgão genital hirto devido ao facto das mulheres daquela época, segundo consta, não quererem ter qualquer relação sexual e afectiva porque davam desculpas como: “ Auah, ualalagagagligahaoulgialgli ngagangumngritxalalau!” que traduzido significa: “Ah, hoje não querido dói-me a cabeça!”...). Outro entrave muito frequente para acender brasas é a intromissão dos mais velhos que dão dicas e relembram histórias: “ Não estás a conseguir atear isso porque precisas aí de meia dúzia de pinhas. Eu quando tive no Ultramar, chegava a atear brasas do tamanho dos pénis dos soldados do MPLA, o que os afugentava!” Quando no meio deste tumulto um malandro diz: “Brasa? Brasa é a minha empregada doméstica, pá! Andersa, sueca, 1,83 m de altura, prateleira divinal, pandeireta de sonho e manda-te um papo!! Olha por acaso está no hospital com a coluna partida pá, que’u mandei-a ir “bescar” a bilha do gás e eu só tinha das pesadas”...
continua...
11 Comentários:
Adoro o cabeçalho!
Um texto bem à moda do laparoto Martins! - a novela continua no proximo episódio xD
as mulheres sao o sexo forte , ja devias saber andré !
beijinhos na dose certa
ri-me até chorar. queremos mais : )
Maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaais.
Quero o resto.
JÁ
xD
Gostei bastante! Encontros familiares são raridades, e na minha opinião, só deveriam ser feitas nos feriados... Mais que isso? POR FAVOR, NÃO! Ver os coitados dos miúdos cujas bochechas são constantemente apertadas e esmagadas por mãos robustas de tias que não têm nada mais a fazer, pensar que cada vez que lá se vai, ouve-se o típico "Estás tão grande! Ó (inserir nome do progenitor), tens aqui um homem/mulher!" quando nem sequer fizemos os nossos belos 18 anos... O melhor é só a comida de borla, de resto, dispenso e quanto mais tento fugir regularmente a todos esses eventos! (Vá, menos no Natal, que o dinheiro e os presentinhos vêm a calhar!)
Quanto ao resto, venha!
Assinado,
ASDC.
P.S. Apesar de tudo, tenho algo a dizer... O texto está um pouco longo! :( De resto, está bastante bom! :)
tens saudades de comer picanha? pode ser um boa desculpa para fazeres uma dessas tainadas, como deste post.
ainda te encontras na doidivina escola secundaria do castelo da maia ?
beijinho na dose certa
minha avó *.*
porque sei que foram !
Fantástico. _*.*_
Um dos melhores textos que li até hoje para comédia. Aguardo a 2ª parte da coisa e espero que venha ainda melhor.
Abraço na dose certa. *.*
so tenho a dizer que o texto da familia estar qq coisa de estraordinario ... grande criatividade .xD
uppss , extraordinarioo ...
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