sábado, 6 de março de 2010

Encontros Familiares (parte 1)

A minha família costuma fazer grandes patuscadas. Se não é em casa da tia Benilde é em casa do avô Bibiano ou do primo de 27º grau que, penso eu, se chama Ermenegildo. Quando chegamos à casa onde vai haver o banquete, todos os familiares se cumprimentam com abraços, apertões de mão, com beijos (umas dão dois e as mais “chiques” brindam o seu afecto apenas com um beijinho) e às vezes, nas saudações entre os familiares menos conhecidos, dá-se uma espécie de junção destas três formas de cumprimentar, sendo que, após uma série de hesitações, um estende a mão para o “passou bem?” e outro dá a sua cara ao manifesto para a junção de bochechas e assim acabam por fazer uma pluralidade de cortesias que eram dispensáveis. Depois disto, as mamãs falam do sucesso escolar e profissional dos seus filhos. Todas falam bem dos seus filhos nem que eles tenham 27 anos e andem a tirar a 4ª classe a noite porque lhes falta a cadeira de Estudo do Meio para serem carpinteiros ou que sejam despedidos todas as semanas por chegarem atrasados aos respectivos empregos por na noite anterior terem ido para a farra. “Amor de mãe” costuma-se dizer... Já os papás falam de futebol, política e de gajas. Nestas tremendas cavaqueiras, ouvem-se frases como por exemplo: “ O Benfica foi ‘bescar’ o melhor marcador do campeonato vietnamita só para calar aí certa gente.”, a já célebre “Até os comemos!” ou então a mítica “ O país ‘tá de ‘tanga’!”. Quando o mais pervertido diz: “Tanga? De tanga vi eu hoje, antes de vir p´rá aqui, a minha vizinha. Aquela toda boa que vocês viram quando festejamos o baptizado do Estanislau lá em minha casa, pá!”. Após esta frase devassa ouvimos sussurros e sorrisos por parte dos homens: “Ah! Ah! É boa é!” e “O que’u lhe fazia a essa...”. Depois há os filhos que, de uma maneira geral, falam de videojogos (rapazes) e de namorados (raparigas e, por vezes rapazes também): “Olha ‘tás a ver aquele nível em que é mesmo difícil derrotar o Cyborg? Queres saber como se faz? Carregas F8, seguido de M, 8, D, Z, 2, W, A e, no fim, F6. Se fizeres isso, com um espaço de 6,34 segundos por cada clique, vem uma nave aliada e desfaz em bocados o Cyborg, com o míssil de Super Raios e Ultra Mega Laser!” As raparigas (com um toque de poesia à mistura): ”Tipo, não sei se ainda te lembras daquele rapaz que conheci o ano passado, o Ananias, aquele que me comeu por trás enquanto tu dormias? Do género, ele anda a enviar-me daquelas SMS a dizer que me ama muito e que quer voltar para mim, depois de andar lá enrolado com a badalhoca da Gorete; aquela que quando vê um gajo asqueroso vai vomitar p’rá retrete.” Sobra a avó: “Estão todos ali na galhofa e esquecem-se de me dar o comprimido p’ró reumático e p’rás diabetes!” Seguidamente, as mulheres vão pondo a mesa, os jovens vão jogar PC, a avó espuma-se pela boca e os homens tentam fazer a parte mais difícil e problemática da comezaina: acender a brasa. Para acender uma brasa, no fundo, é preciso ter uma certa sapiência e destreza. Primeiro, não é qualquer um que se atreve a “mergulhar” as suas mãos no saco do carvão para o pôr no barbecue, pois ficariam da cor preta, o que é bastante desagradável. Depois, como toda a gente sabe, não é qualquer um que, com um vento a soprar de nordeste a uma velocidade não inferior a 50 km/h, acende uma brasa. Não somos nenhum Homo Erectus, que diabo! (Para quem não sabe, Homo Erectus foi a espécie que descobriu o fogo sem a ajuda de um isqueiro ou até mesmo de um fósforo! É também assim chamado porque esta espécie andava constantemente com o seu órgão genital hirto devido ao facto das mulheres daquela época, segundo consta, não quererem ter qualquer relação sexual e afectiva porque davam desculpas como: “ Auah, ualalagagagligahaoulgialgli ngagangumngritxalalau!” que traduzido significa: “Ah, hoje não querido dói-me a cabeça!”...). Outro entrave muito frequente para acender brasas é a intromissão dos mais velhos que dão dicas e relembram histórias: “ Não estás a conseguir atear isso porque precisas aí de meia dúzia de pinhas. Eu quando tive no Ultramar, chegava a atear brasas do tamanho dos pénis dos soldados do MPLA, o que os afugentava!” Quando no meio deste tumulto um malandro diz: “Brasa? Brasa é a minha empregada doméstica, pá! Andersa, sueca, 1,83 m de altura, prateleira divinal, pandeireta de sonho e manda-te um papo!! Olha por acaso está no hospital com a coluna partida pá, que’u mandei-a ir “bescar” a bilha do gás e eu só tinha das pesadas”...




continua...




11 Comentários:

Às 7 de março de 2010 às 14:46 , Anonymous Sissi, o 5º elemento disse...

Adoro o cabeçalho!

 
Às 8 de março de 2010 às 17:34 , Anonymous Sissi, o 5º elemento disse...

Um texto bem à moda do laparoto Martins! - a novela continua no proximo episódio xD

 
Às 9 de março de 2010 às 19:02 , Anonymous T. disse...

as mulheres sao o sexo forte , ja devias saber andré !

beijinhos na dose certa

 
Às 9 de março de 2010 às 19:08 , Anonymous T. disse...

ri-me até chorar. queremos mais : )

 
Às 9 de março de 2010 às 20:39 , Anonymous Sara disse...

Maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaais.
Quero o resto.

xD

 
Às 9 de março de 2010 às 21:57 , Anonymous A suspeita do costume. disse...

Gostei bastante! Encontros familiares são raridades, e na minha opinião, só deveriam ser feitas nos feriados... Mais que isso? POR FAVOR, NÃO! Ver os coitados dos miúdos cujas bochechas são constantemente apertadas e esmagadas por mãos robustas de tias que não têm nada mais a fazer, pensar que cada vez que lá se vai, ouve-se o típico "Estás tão grande! Ó (inserir nome do progenitor), tens aqui um homem/mulher!" quando nem sequer fizemos os nossos belos 18 anos... O melhor é só a comida de borla, de resto, dispenso e quanto mais tento fugir regularmente a todos esses eventos! (Vá, menos no Natal, que o dinheiro e os presentinhos vêm a calhar!)

Quanto ao resto, venha!

Assinado,
ASDC.

P.S. Apesar de tudo, tenho algo a dizer... O texto está um pouco longo! :( De resto, está bastante bom! :)

 
Às 9 de março de 2010 às 21:58 , Anonymous T. disse...

tens saudades de comer picanha? pode ser um boa desculpa para fazeres uma dessas tainadas, como deste post.
ainda te encontras na doidivina escola secundaria do castelo da maia ?

beijinho na dose certa

 
Às 10 de março de 2010 às 14:47 , Anonymous T. disse...

minha avó *.*

porque sei que foram !

 
Às 11 de março de 2010 às 10:00 , Anonymous J. Miranda disse...

Fantástico. _*.*_

Um dos melhores textos que li até hoje para comédia. Aguardo a 2ª parte da coisa e espero que venha ainda melhor.

Abraço na dose certa. *.*

 
Às 11 de março de 2010 às 23:03 , Anonymous ana lima disse...

so tenho a dizer que o texto da familia estar qq coisa de estraordinario ... grande criatividade .xD

 
Às 11 de março de 2010 às 23:04 , Anonymous ana lima disse...

uppss , extraordinarioo ...

 

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